Coronavírus: Os efeitos econômicos do COVID-19 em todo o mundo

Três notícias atuais e um único ponto em comum: o novo coronavírus.

À medida que o mundo lida com o coronavírus, o impacto econômico está aumentando: a OCDE – Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Econômico, já alerta que o vírus representa o maior perigo para a economia global desde a crise financeira de 2008.

Atualmente, existem mais de 360 mil* casos confirmados de COVID-19 em todo o mundo. O novo coronavírus surgiu em Wuhan, na China, em dezembro de 2019 e está se espalhando pelo mundo com uma velocidade assustadora.

Muitas empresas estão lidando com receitas perdidas e cadeias de suprimentos interrompidas devido a paralisações de fábricas na China (que importa boa parte da matéria prima do mundo; e exporta produtos manufaturados). Isto ocorre porque dezenas de milhões de pessoas estão permanecendo em confinamento dentro de suas casas e em centros de acolhimento: como não existe vacina para o vírus, as pessoas precisam evitar contato pessoal entre si, durante o ciclo de contágio da doença (normalmente de 7 a 14 dias).

Mas, quando em confinamento, estas pessoas não consomem, não produzem nem se deslocam, deprimindo ainda mais a demanda por serviços (com extensão óbvia a viagens). Para se ter uma ideia da abrangência do problema, a Itália colocou medidas de quarentena em toda a sua população.

Segundo apuração da Agence France-Presse, Iris Pang, economista do ING Wholesale Banking, pontuou que a produção industrial chinesa caiu 13,5% em ritmo anual entre janeiro e fevereiro. Já o BNS (Bureau Nacional de Estatísticas) apontou que a taxa de desemprego na China em áreas urbanas, no mês de fevereiro, subiu para 6,2%.

No entanto, os economistas estavam otimistas: a economia da China se recuperaria rapidamente se o vírus pudesse ser contido. No entanto, não é isso que se observa.

covid-19 itália

Queda na demanda por petróleo: bolsas caem

A China é o maior importador de petróleo do mundo. Com o coronavírus atingindo atividades que vão de manufatura a viagens, a Agência Internacional de Energia (AIE) previu a primeira queda na demanda global de petróleo em uma década, com uma queda de 435.000 barris de petróleo ano a ano no primeiro trimestre de 2020. “Trata-se da primeira contração trimestral em mais de 10 anos”, afirmou a AIE em seu último relatório mensal.

Para piorar, em 9 de março, os preços do petróleo perderam adicionalmente mais 30% (a maior derrota diária desde a Guerra do Golfo de 1991), quando a Arábia Saudita e a Rússia sinalizaram que aumentariam a produção em um mercado já repleto de petróleo, pondo fim a um pacto de preços que já durava três anos.

Também em 9 de março, após as notícias do bloqueio no norte da Itália, os mercados de Londres, Frankfurt e Paris caíram de 7 a 8%. O principal índice da Itália perdeu 11%. As negociações nas bolsas de valores dos EUA foram inicialmente suspensas, uma vez que o S&P 500 caiu 7%, provocando um corte automático de 15 minutos após a crise financeira de 2008. O IBOVESPA, principal índice das ações brasileiras, despencou mais de 12% nesse dia.

As negociações foram confusas nesta terça-feira dia 10, com um aumento inicial das ações dos EUA devido às esperanças de estímulo global que desaparecem após a abertura e índices futuros ensejando recuperações que não são capazes de repor as perdas dos dias anteriores.

Impacto nas viagens aéreas

O coronavírus também está afetando as companhias aéreas: a IATA – Associação Internacional de Transporte Aéreo, prevê que o surto possa custar às companhias aéreas US$ 113 bilhões em receita perdida, resultado da diminuição da procura por transporte aéreo no mundo.

Brian Pearce, economista-chefe da IATA, disse à Associated Press que “muitas companhias aéreas têm margens de lucro e dívidas relativamente estreitas e isso pode levar algumas delas a uma situação muito difícil”. Já temos inclusive uma vítima destas circunstâncias: a companhia aérea regional britânica Flybe parou de voar em 6 de março, resultado de problemas financeiros em andamento exacerbados pela perda de receita devido ao surto. No Brasil, a Azul Linhas Aéreas colocou o staff em possibilidade de licença não remunerada e suspendeu temporariamente os voos entre Campinas e Porto.

Interrupção e ruídos no comércio

A escassez de produtos e peças da China está afetando empresas em todo o mundo: para reduzir a propagação do vírus, algumas fábricas atrasaram suas reaberturas após o Ano Novo Lunar Chinês para que seus trabalhadores ficassem em casa.

Exemplos: a Foxconn, parceira de produção da Apple na China, está enfrentando um atraso na produção. Algumas montadoras, incluindo Nissan e Hyundai, fecharam temporariamente fábricas fora da China, porque não conseguiam peças para suas linhas de montagem. As indústrias farmacêuticas também estão se preparando para interromper a produção global, por quebra das cadeias de suprimento de seus insumos. E as feiras e eventos esportivos na China, Ásia e ao redor do mundo, incluindo o Brasil, já foram cancelados ou adiados.

Perspectivas

Na medida em que as pessoas passarem a adquirir resistência ao vírus, a escala de infecções diminuirá. Verificaremos capacidade ociosa das organizações e uma rápida retomada dos negócios em escala global. E retomada dos embarques do comércio internacional.

Entretanto, cabe aos bancos centrais proteger as paridades cambiais de suas moedas, de forma a proteger a capacidade de investimento de seus entes através de políticas de hedge.

Ao mesmo tempo, nota-se um movimento de consenso expressivo no sentido de que a economia mundial não pode mais depender de um único país, cliente ou consumidor, pois crises como a do COVID-19 residem exatamente neste aspecto.

* Cristiano Teixeira é Consultor Funcional da eCOMEX – NSI.

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